"Se as árvores falassem"

«As árvores que dignificam as nossas praças e avenidas e embelezam os nossos jardins e parques são um elemento essencial de qualidade de vida, autênticos oásis no "deserto" que são tantos dos nossos espaços urbanos actuais. E, no entanto, é por demais evidente a ainda quase absoluta ausência de sensibilidade para o papel da Árvore em Meio Urbano. (...)
De facto, é inacreditável como certos preconceitos sobre a poda de árvores ornamentais estão arreigados nos responsáveis pela sua gestão e manutenção. É frequente ouvirmos dizer, como justificação, que as "podas" radicais, ou "rolagens", rejuvenescem e fortalecem as árvores, ou que são a única forma económica de controlar a sua altura e perigosidade... quando, na verdade, devia dizer-se de uma poda o mesmo que de um árbitro: - tanto melhor quanto menos se der por ela! (...) (Texto de Dr. Francisco Coimbra)

1. A poda drástica rejuvenesce a árvore?- NÃO! (...) O facto de, após uma operação traumática, as árvores apresentarem uma rebentação intensa- como tentativa "desesperada" de repor a copa inicial - não significa rejuvenescimento, mas sim um "canto-de-cisne", à custa da delapidação das suas reservas energéticas.(...)
2. Fortalece-a? - NÃO, a poda radical é um acto traumatizante e debilitante, uma porta aberta às enfermidades. (...)
3. Torna-a menos perigosa? -NÃO, estas "podas" induzem a formação, nos bordos das zonas de corte, de rebentos de grande fragilidade mecânica, pois têm uma inserção anormal e superficial no tronco. (...)
4. É a única forma de a controlar em altura? - NÃO, a quebra da hierarquia -que estava estabelecida entre os ramos naturalmente formados - permite o desenvolvimento de novos ramos de forte crescimento vertical, mas agora de uma forma desorganizada e muito mais densa! (...)
5. É mais barata? - NÃO, se a gestão do património arbóreo for pensada a médio e longo prazo! (...)»
«Qualquer supressão de que resulta um aspecto definitivamente mutilado da árvore deve considerar-se inadmissível visto comprometer definitivamente a finalidade estética da planta ornamental. É preferível nesse caso a supressão pura e simples do indivíduo. Apenas se exceptuarão os casos raros de indivíduos ligados a factos históricos ou quando se pense que seja possível uma reconstituição aceitável da planta.Normalmente os cortes devem fazer-se de modo a não se notarem. O maior elogio que se pode fazer a um podador de árvores ornamentais é que não se perceba que a árvore foi podada. A forma da árvore é perfeita e portanto não é necessário corrigi-la no sentido estético nem fisiológico.»
«Se não há espaço para a árvore é preferível plantar só o arbusto, ou mesmo só a flor e não contar depois com a tesoura para manter com proporções de criança o gigante que se escolheu impensadamente.»
inA Árvore em Portugal de Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Telles (Assírio & Alvim, 1999. 2ª ed.) p. 161 ""

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