Mão na Gê-Questa




Dário Silva é um ambientalista convicto e assume agora o destino da Gê-Questa. O presidente da associação ambiental não esconde os constrangimentos que resultam da diminuição dos orçamentos, mas tem projetos que quer ver implementados doa a quem doer. O alargamento do voluntariado e a criação de uma horta comunitária, por exemplo.









É agora o novo presidente da Gê-Questa, associação de defesa do ambiente. Porque é que decidiu aceitar este desafio?A minha tomada de decisão não foi repentina. Aliás, tem sido um processo de amadurecimento, principalmente nos últimos meses. Faço parte da associação já há alguns anos e tenho estado desde sempre envolvido, juntamente com alguns membros da atual direção, nos projetos que associação tem desenvolvido.
Toda esta caminhada final teve início a meio do verão de 2011. Estava completo mais um ciclo, a anterior direção iria terminar o seu mandato muito em breve, e não existia disponibilidade por parte de alguns deles em continuar. Contudo, havia um grupo de pessoas que sempre trabalhou em prol da associação, com muita vontade de dar continuidade ao projeto Gê-Questa. Desta forma dei início aos contactos com várias pessoas, falei com a antiga direção, e a pouco a pouco foi surgindo uma lista, na qual eu tenho muita confiança e acredito que seja capaz de continuar o bom trabalho feito até agora.
Que projetos tem para associação? Onde pretende levar a Gê-Questa?Como referi, não se trata de um projeto só meu, mas sim de um projeto transversal a um grupo de pessoas voluntárias que já deu muito em prol da associação e que eu acredito que vai continuar a dar.
Antes de mais convêm referir o processo que a Gê-Questa atravessa de momento. Apesar de ser uma grande mudança, pretendemos dar continuidade ao trabalho iniciado pela anterior direção, mas só isso seria realmente muito pouco ambicioso. Desta forma temos traçado como grandes objetivos para o biénio 12/13 a implementação da terceira edição do Projeto Voluntariado Ambiental em mais do que uma ilha, promovendo desta forma a dinâmica do associativismo no restante arquipélago; a criação de um campo de férias ambientais para os mais jovens; e, por fim, talvez o mais ambicioso seja a criação de um pomar/horta comunitária.
Nesse âmbito, a Gê-Questa já está a realizar a iniciativa "Pezinho de salsa", onde orienta os participantes no desenvolvimento das suas próprias produções. Qual é a importância e o que é que pretendem com a criação de uma horta comunitária?A horta/pomar comunitário, assente nos princípios da agricultura orgânica/biológica, tem conseguido fazem com que algumas pessoas iniciem práticas agrícolas. Outros, que já o faziam, têm agora aprendido e utilizado práticas da agricultara biológica.
Todo este processo tem sido uma constante troca de experiências, saberes, sementes e plantios.
O "Pezinho de salsa", ao reiniciar em janeiro, continuará a realizar práticas orgânicas que serão partilhadas com todos os participantes. Até agora as nossas atividades têm incidido sobre a compreensão do que é o solo e das práticas não agressivas para os micro-organismos desse ecossistema, como se favorece os organismos do solo sem a introdução de produtos da indústria petroquímica, tendo como opção a compostagem.
Iniciámos a troca de conhecimentos sobre rotações e consociações, isto é, as culturas que se favorecem quando estão juntas e as que não devem estar próximas e, a partir de janeiro e do reinício da atividade, iremos promover a produção de fertilizantes e de "inseticidas" biológicos, bem como a introdução de animais favoráveis na agricultura.
A Gê-Questa, tal como outras associações, tem visto diminuir o seu orçamento. Que implicações tem tido, nas atividade da associação, a redução de orçamentos?  Em todos os países civilizados o Estado tem por obrigação contribuir para a sustentabilidade da sociedade civil, isto é, dos grupos organizados em prol de causas nobres. A vivacidade de uma democracia mede-se pela dinâmica e pelo trabalho realizado por esses grupos. A Gê-Questa, ao longo do tempo, tem suportado mais responsabilidades e atividades ao mesmo tempo que vê a diminuição dos recursos financeiros. Em compensação tem incrementado a quantidade de parcerias e o recurso a sócios ativos. Claro que com o pretexto da crise poderão asfixiar a sociedade civil e a qualidade da democracia. Da nossa parte vamos continuar a "esticar a perna conforme o lençol". E mesmo sem lençol continuaremos!
Quais são, neste momento, os grandes desafios da associação?Estrategicamente continuaremos a bater-nos por uma economia sustentável com base na produção biológica e noutras formas de criação de riqueza de baixo impacto ambiental.
Qual tem sido o grande papel da Gê-Questa? Que balanço faz destes 17 anos de existência?Nos primeiros anos a associação substituiu o papel do Estado e da administração, realizando atividades de denúncia e fiscalização. Aos poucos, essencialmente por imposição da Comunidade Europeia, mas também com o nosso contributo, o Estado assumiu esses papéis.
A abertura e sinalização dos primeiros trilhos pedestres na ilha Terceira e alguma colaboração nos trilhos da ilha das Flores também foram da responsabilidade da associação.
Numa segunda fase, a Gê-Questa desenvolveu essencialmente programas de educação ambiental, sobretudo na temática do mar. Com a entrada em funcionamento das ecotecas, de outros programas de educação ambiental (como o Eco-escolas, Bandeira Azul ou a Agenda 21) e das próprias escolas, a educação ambiental ficou saturada de intervenientes. Assim, o nosso espaço social é agora de parceria com entidades com preocupações ambientais, como o Governo, a universidade ou empresas privadas, e de intervenção na agricultura biológica, combate às infestantes, e contributo para a preservação dos Parques de Ilha através das edições do voluntariado.
Uma das lutas assinadas pela Gê-Questa tem que ver com a eliminação dos transgénicos dos Açores. O Governo Regional vai apresentar uma proposta de lei que só admite o seu cultivo para fins científicos. Alcançaram o vosso objetivo ou há ainda caminho a percorrer? O nosso objetivo é não envenenar os Açores. Isto parte da constatação de que diariamente são envenenadas as terras agrícolas, os aquíferos de onde mais tarde bebemos água, o ar que respiramos, os alimentos que comemos. Sabemos que é possível criar riqueza sem ter esses impactos. É de salientar que os Açores podem vir a ser o exemplo para um mundo que se basta a si próprio.
A Gê-Questa tem realizado uma diversidade de ações que tem como público-alvo os mais jovens. Continua a ser importante incutir ideias de preservação do ambiente desde cedo? Já se nota uma mudança de atitude em relação à preservação ambiental?Sem dúvida que educar os jovens sobre a problemática ambiental é extremamente importante, mas a questão é muito mais complexa. Os jovens podem servir como meios de pressão sobre os mais velhos, mas também são rapidamente neutralizados pelas rotinas instaladas. Por exemplo, são inúmeros os testemunhos de jovens que são conhecedores profundos das regras de deposição das embalagens nos ecopontos, queixando-se, no entanto, de não conseguirem convencer os seus pais a fazê-lo.
O processo de educação ambiental é composto por vários elos de ligação, não subsiste isolado e, desta forma, para que seja possível alcançar bons resultados no final, os elos têm que ser muito bem moldados, sem exceção.
Assim sendo pretendemos continuar a implementar uma educação ambiental junto dos mais jovens, mas pretendemos levar este tipo de ações para um novo patamar, chegando junto dos mais velhos. Perante isso levantam-se novos desafios, nomeadamente como abordar o cidadão adulto, agarrado a velhos hábitos; como explicar que nas questões ambientais não é suficiente saber, é preciso fazer; como mudar os seus comportamentos. Acredito que só depois de ver estas e outras questões resolvidas vamos estar, na realidade, perante uma mudança de atitude sobre as questões ambientais.

Sem comentários: